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Chegada do verão amazônico marca temporada do caju e fruta toma ruas e lavrado de Roraima

Chegada do verão amazônico marca temporada do caju e fruta toma ruas de Roraima Um cheiro adocicado e inconfundível toma conta das ruas de Boa Vista e do int...

Chegada do verão amazônico marca temporada do caju e fruta toma ruas e lavrado de Roraima
Chegada do verão amazônico marca temporada do caju e fruta toma ruas e lavrado de Roraima (Foto: Reprodução)

Chegada do verão amazônico marca temporada do caju e fruta toma ruas de Roraima Um cheiro adocicado e inconfundível toma conta das ruas de Boa Vista e do interior. É o sinal de que o verão amazônico se firmou e trouxe com ele a temporada do caju em Roraima. Do lavrado às calçadas, o cenário é de árvores carregadas e do chão colorido de amarelo e vermelho, um convite para quem não dispensa colher a fruta direto do pé. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 RR no WhatsApp O professor de espanhol Gilmar Silva é uma dessas pessoas. Ele aproveitou a fartura de um dos cajueiros que fica às margens da avenida Ene Garcez, no Centro de Boa Vista , para coletar alguns frutos. A produção é tanta que as árvores disputam o espaço urbano com os veículos: “Vi um ônibus passar e bater nos galhos e caiu muito caju", contou o professor. Caju nativo roraimense tem como característica a variabilidade genética de tamanhos, cores e sabores Nalu Cardoso/g1 RR Os cajus recolhidos por Gilmar tinham destino certo: a cozinha de casa. “Outro dia eu estava passando, catei alguns e minha esposa fez doce. Ela pediu para que eu viesse hoje de novo. Ela gostou do doce e quis fazer para os filhos também”, completa. A colheita urbana de Gilmar não é por acaso. É o reflexo do auge da safra do caju em Roraima, que ocorre entre os meses agosto a meados de dezembro. O período coincide com o verão amazônico, época em que as chuvas diminuem e dão lugar ao tempo seco e o calor intenso. Professor Gilmar Silva aproveitou a fartura de cajus em árvores na Avenida Ene Garcez para coletar alguns frutos João Gabriel Leitão/g1 RR 'Chuva do caju' Essa coincidência popularizou o fenômeno conhecido como “chuva do caju” entre roraimenses. Porém, ao contrário do que a tradição popular indica, pesquisadores alertam que o excesso de água pode ser um vilão. Segundo a pesquisadora da Embrapa Roraima, Cássia Pedrozo, o que garante a boa safra não é a chuva em si, mas o fim dela. Para florescer, os cajueiros exigem alta luminosidade e os longos períodos de estiagem característicos do estado. “Às vezes, a ocorrência de chuvas durante essa fase de florescimento é problemática. Se forem chuvas fortes e constantes, nós praticamente não colhemos o caju nativo. Ele apodrece”, explicou a pesquisadora ao g1. Caju nativo precisa da luz do sol e do tempo mais seco para florescer e se desenvolver de forma saudável João Gabriel Leitão/g1 RR Cássia explica que o caju de Roraima é nativo e se espalha sem depender do plantio humano. As castanhas que caem germinam perto de árvores e animais ou pessoas dispersam sementes para outros locais. Por isso, nesta época do ano a fruta aparece tanto nos campos do interior quanto nas calçadas da capital. Para 2025, portanto, o cenário foi ideal. "O florescimento tem sido intenso este ano [...]Isso ocorre porque estamos tendo chuvas pequenas, bem espaçadas, passageiras e muito localizadas. Isso favorece a frutificação”, detalhou a especialista. DNA único Outra característica que não passa despercebida por quem observa os cajueiros é a diversidade. Nas ruas e no lavrado, é difícil encontrar cajueiros iguais. "Alguns são mais altos, outros mais baixos; uns têm copa densa, outros não", descreve Cássia. 🔍 Um cajueiro com copa densa é aquele que tem bastante folhagem, galhos cheios e uma sombra mais fechada. A variabilidade também aparece nos frutos. "Alguns têm colorações e tamanhos diferentes, tanto dos pedúnculos quanto das castanhas. Essa diversidade é uma característica do nosso estado, mas também ocorre em outras regiões". O sabor também varia entre os mais "docinhos" e os mais "azedinhos". Essa riqueza genética do caju nativo de Roraima virou objeto de desejo do desenvolvimento científico. A Embrapa realiza coletas constantes de materiais no estado para enviar ao Banco de Germoplasma no Ceará, referência nacional na cultura. O objetivo é usar a resistência do caju roraimense, adaptado ao solo arenoso e de baixa fertilidade do lavrado, para desenvolver clones mais produtivos e expandir o cultivo para todo o Brasil. Cajueiro nativo de Roraima localizado à beira do Lago dos Americanos, no Parque Anauá, em Boa Vista João Gabriel Leitão/g1 RR Economia da castanha Para além da pesquisa e do preparo do suco e doces caseiros, o caju nativo também é fonte de renda vital para comunidades indígenas do estado. A colheita extrativista, principalmente da castanha, movimenta a economia de diversos grupos, especialmente na região de Normandia. Diferente do plantio comercial, nessas áreas não há cultivo: os indígenas manejam as populações nativas de cajueiros, coletam os frutos e realizam o processamento artesanal de assar a castanha para venda em feiras e mercados. Seja in natura, em forma de doce ou castanha torrada, ano após ano, o caju reafirma o papel na identidade local enquanto o verão durar. Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.