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Como Trump virou figura central da política brasileira em uma semana

Trump impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e defendeu Bolsonaro em carta com tom político. Medida provocou reações duras do Planalto, dividiu ...

Como Trump virou figura central da política brasileira em uma semana
Como Trump virou figura central da política brasileira em uma semana (Foto: Reprodução)

Trump impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e defendeu Bolsonaro em carta com tom político. Medida provocou reações duras do Planalto, dividiu o Congresso e contamina o cenário eleitoral pré-2026. Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se tornou uma figura central na política — não de seu país, mas do Brasil —, mobilizando oposição e governo em debates acirrados. Trump fez declarações contra o governo Lula, atacou diretamente o Judiciário brasileiro e anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Segundo entidades do setor, a tarifa de 50% tornaria inviável a exportação de produtos como suco de laranja, aço e carne, que perderiam competitividade nos EUA — principal destino de parte dessas mercadorias. Representantes da indústria temem demissões e cancelamento de contratos. A decisão repercutiu como um terremoto em Brasília. Agora, as discussões no Congresso, no Executivo e até no Judiciário — incluindo movimentações para as eleições de 2026 — estão contaminadas pelo fator Trump. Veja como isso aconteceu: A carta Lula 'imita' vozes para ironizar Trump e Eduardo Bolsonaro: 'Solta meu pai' O estopim da crise foi uma carta publicada por Trump em seu site, no dia 9, em que o republicano afirma que o Brasil está perseguindo Jair Bolsonaro e atacando empresas americanas: “O governo Lula persegue seu antecessor político com investigações motivadas por vingança. A Suprema Corte do Brasil se tornou um instrumento de opressão.” A motivação ideológica da taxação chocou o governo brasileiro e o Judiciário brasileiro, que lembram que Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado, num processo que obedece os ritos constitucionais. Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto: “Essa taxação é uma resposta legítima à tirania disfarçada de democracia. Não aceitaremos que o Brasil, sob o atual regime, continue atacando nossos aliados e prejudicando nossas empresas.” O anúncio surpreendeu o governo brasileiro, que esperava — como o próprio Trump havia sugerido dias antes — uma tarifa geral de 10% para países do Brics, grupo que inclui o Brasil. Lula: 'Se não tiver jeito no papo, a gente taxa também' Lula diz que deveria taxar Trump O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com firmeza. Disse que Trump está “mal informado” e que o Brasil jamais admitirá intromissão estrangeira no seu Judiciário: “Nos últimos 15 anos, entre comércio e serviços, temos um déficit de 410 bilhões de dólares com os EUA. Eu que deveria taxar ele.” Lula acusou Jair Bolsonaro de ter enviado o filho, Eduardo, aos EUA para pedir ajuda a Trump: “Aquela coisa covarde mandou o filho dizer: ‘Trump, pelo amor de Deus, salva meu pai’. É preciso que essa gente crie vergonha na cara.” O presidente afirmou que tentará negociar na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas que, se necessário, recorrerá à Lei da Reciprocidade, sancionada por ele em abril: “Taxou aqui, a gente taxa lá. Não tem outra coisa a fazer.” O presidente Lula voltou a usar boné com a inscrição 'O Brasil é dos Brasileiros' Reprodução/X Bolsonaro: 'Isso jamais teria acontecido sob o meu governo' O ex-presidente Jair Bolsonaro manifestou apoio total à decisão de Trump. Em nota, disse ter recebido a notícia da tarifa com “senso de responsabilidade” e reafirmou: “Reitero minha admiração pelo governo dos Estados Unidos.” Eduardo Bolsonaro divulga carta sobre tarifaço de Trump Bolsonaro ainda responsabilizou Lula e o Judiciário pela crise: “A medida anunciada é consequência direta do afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade. Isso jamais teria acontecido sob o meu governo.” Ele também endossou a expressão usada por Trump e afirmou: “Há uma verdadeira caça às bruxas no Brasil. Peço aos Poderes que ajam com urgência apresentando medidas para resgatar a normalidade institucional.” Brics e o pano de fundo geopolítico Ofensiva de Trump sobre o Brasil é contra o 'B' de Brics e não a favor do 'B' de Bolsonaro A tensão ganhou força após a reunião do Brics no Rio de Janeiro, dias antes do tarifaço. Lula defendeu o multilateralismo, a soberania dos países membros e até mesmo a criação de uma moeda própria, alternativa ao dólar: “Não temos a máquina de rodar dólar. Só os EUA têm. Podemos negociar com as moedas de cada país.” Trump é contra essa visão: “O Brics foi criado para nos prejudicar, para destruir o dólar como padrão. Se quiserem jogar esse jogo, eu também sei jogar.” Leia também: Quem paga a conta da nova tarifa de Trump? Brasil perde mercado, e preços podem subir nos EUA Lula diz que Bolsonaro mandou filho aos EUA pedir a Trump para 'salvar' o ex-presidente e 'ameaçar' governo com taxas Tarifaço de Trump: Tarcísio se reúne com membro da Embaixada dos EUA e volta a dizer que 'responsabilidade é de quem governa' Congresso No Congresso, a reação escancarou a divisão entre governistas e bolsonaristas. Randolfe Rodrigues (sem partido-AP): “Não existe dois lados quando o que está em jogo é a soberania nacional.” Humberto Costa (PT-PE): “Trump fez um ataque ao Brasil, não a um governo.” Ivan Valente (PSOL-SP): “É interferência externa, e defesa de um golpista que vai para a cadeia.” Por outro lado, parlamentares da oposição apontaram a diplomacia ideológica de Lula como causa da crise: Flávio Bolsonaro (PL-RJ): “Parabéns, Lula. Você conseguiu ferrar o Brasil.” Ciro Nogueira (PP-PI): “O senhor colocou a ideologia acima do interesse do povo brasileiro.” Governadores se posicionam Os governadores também se dividiram: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP): “Lula colocou ideologia acima da economia. Esse é o resultado.” Romeu Zema (PL-MG): “A conta será paga pelas empresas e trabalhadores.” Ronaldo Caiado (União-GO): “Lula declara guerra aos EUA e tenta ressuscitar o bolivarianismo.” Eduardo Leite (PSD-RS): “Lamento a interferência externa, mas também a radicalização política interna.” Jerônimo Rodrigues (PT-BA): “O Brasil não é quintal de ninguém. Não aceitaremos chantagem.” E agora? Lula afirmou que não procurará Trump diretamente, mas que está disposto a dialogar. O governo também organiza uma reunião com empresários brasileiros exportadores, que temem prejuízos bilionários com a medida. A expectativa é formar um grupo técnico para explorar novos mercados, enquanto tenta reverter o tarifaço na OMC. Mesmo a milhares de quilômetros de Brasília, Trump quer ditar o tom do debate político brasileiro. Ao fim da carta, o republicano escreveu: “O Brasil está em perigo. E enquanto houver uma voz livre, ela precisa ser ouvida. Bolsonaro é um patriota. E Lula, um tirano travestido de democrata.” Lula tem afirmado que essa atitude é "inaceitável". Na sexta-feira (11), Trump disse que pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as novas tarifas aplicadas ao Brasil “em algum momento, mas não agora”. Eles nunca se falaram pessoalmente desde que Trump assumiu, no início do ano.